As semanas de pseudo confinamento tem oportunizado reencontros. Com a velha caixa de botões de futebol de mesa. Com jogos de baralho e dados, diversões que os filhos ainda nem conheciam. Com aquelas canções memoráveis em Lps, CDs e Spotify que o tempo já escasso desperdiçado em idas e vindas-motivo de reavaliação- ocupava na timeline.Com as fotos ainda em cópias color que já habitavam mofadas o mais fundo do baú. Com as promessas que você ficou devendo aos amigos. Lembranças.
O período também propicia buscas nas mais diversas expressões da internet. As séries que você nem começava por que sabia com a certeza de que não teria como terminar, tornaram-se um desafio honesto e provocativo, porém alcançável.
Dentro desse escopo pude dar um início competitivo à série Better Call Saul, que retrata a vida de um advogado mais trapalhão do que picareta. Ou mais picareta do que trapalhão? Você decide! Um rábula, como pedem repetidamente os verbetes das palavras cruzadas. O movimento dessas novelas com cara e corpo de cinema é muito interessante. Filhote estendido das sitcoms do início do século, as séries trazem para a tela dos monitores, os dramas que aqueles apreciadores do bom cinema não conseguem enxergar nas novelas de tevê, conhecidas mundialmente como soapy, óperas de sabão.
A força das séries é tal, que desconhecidos atores, por falta de oportunidades na sétima arte, acabam por construir seus nomes e obter salvaguarda para o cinema, graças aos seus insistentes trabalhos no streaming do meio televisivo. Talvez o caso mais fulgurante seja o de Hugh Laurie, o famoso Dr.House, que depois de papeis sem expressão no cinema, passou a ser uma estrela inclusive na música, com turnês bem reputadas ao redor do mundo.
Voltando ao Saul, guardem esse nome: Bob Odenkirk, que me parece um daqueles gloriosos nomes artísticos formados a partir de outros já foneticamente famosos no meio. O ator principal do seriado, se é que assim podemos ousar chamar, exibe uma série de talentos dramáticos de fazer inveja a muitos medalhões e canastrões com currículo em Hollywood.
Acredito que muitos daqueles nomes selecionados no casting, aparecerão ainda em futuro breve no cinema. Lançada em 2015, como prequência genética de Breaking Bad (está na quinta temporada) incorpora outra vantagem desse gênero. É atemporal, pois você pode identificar pelos modelos dos celulares, exatamente em que época ela ocorre sem se sentir enganado pelo tempo.
Não se trata de um hit gigantesco como Game of Thrones ou House of Cards, mas é envolvente, depois do quinto capítulo o espectador passa a ter lado, torcer pelos personagens e literalmente se tornar um adicto da trama.
Quando o espectador não encontra mais razão para se curar de um viés da Síndrome de Estocolmo, desejar melhor sorte ao bandido, ele já está cativado e vai se tornar um player invisível entre os personagens. Perdoem-me aqueles que esperavam por uma posição mais contundente em relação aos acontecimentos que polarizaram nossa atenção nos últimos dias, mas eu não tive outra alternativa a não ser chamar o Saul. Foi melhor.