“Tem alguma coisa aí pra mim hoje?”,brada o vendedor,sem saltar do carro,inclinado para a janela do caroneiro, mão esquerda no volante.Isso denota preguiça de se movimentar, ir ao encontro do cliente, acomodação de se envolver com a causa do cliente e mais:uma certeza de que,como dizem os americanos”you take it for granted”,a errônea sensação de que o cliente está na sua mão e nada vai tirá-lo de você.
A expressão tirador de pedido foi cunhada na década de 1980 e tive a oportunidade de escutá-la pela primeira vez numa palestra motivacional do Prof.Gretz,o pioneiro palestrante-show.
Vivemos tempos difíceis, já escrevi aqui neste espaço,coisa que meus queridos colegas de página puderam testemunhar ao escreverem ambos sobre morte na semana passada,cada um,o criativo escritor Henrique Schneider, e o incensado poeta Luiz Coronel,pelo seu ângulo de talento.
Mas voltando à minha lente,hoje as empresas tem feito muito,mas infinitamente muito mais,para não vender do que para vender,e assim se associarem a dezenas de outras marcas que se apoiam no muro das lamentações das empresas já falidas,em processo de falência ou arquitetando o seu falecimento.Só na semana passada vivenciei em dois dias,quatro ou cinco episódios que fazem a gente pensar:quanto esse cara tem desperdiçado em publicidade?quanto ele tem deixado de investir em programas de qualidade?quanto ele deve estar economizando em treinamento?como estaria a relação dele, como distribuidor, com seu fornecedor nº1 de produtos?
É fato que os três últimos anos,14,15 e 16,sugaram o que a maioria dos negócios tinha de melhor:sua energia,sua esperança,seu saldo bancário e o otimismo de seus vendedores.Ou seja,restou pouco,quase nada.Arrastadas pelos desmandos de Brasília,as empresas brasileiras passam mais de 50 % do seu tempo se queixando do Governo,falando mal dos políticos,criticando decretos e leis aprovados no Congresso e Senado, além de palpitar sobre decisões do STF,como acaba de acontecer com a inclusão de um novo membro.Ainda bem que no RS,temos chargistas e cartunistas competentes, que dizem com seus traços e o texto de seus balõezinhos,o que para nós fica indigesto manifestar.
Para ilustrar conto apenas um episódio da semana que se encerrou ontem: chegando a um posto de gasolina de uma das marcas mais fortes do mundo, vi com alegria que não havia ninguém na minha frente. Tampouco havia alguém para me atender.Esperei entre 3 ou 4 minutos para que alguém aparecesse,o que vamos combinar,num posto de gasolina,é quase a duração de um velório.De repente,não mais que de repente,surge uma mocinha entusiasmada ao celular,pelo que percebi falando com o namorado.Nada mais justo.Para trocar juras de amor ou fazer uma DR,qualquer hora é hora.Ela intercalava frases de afeto enquanto tentava checar se eu já havia sido atendido.Pedi a ela q encerrasse seu colóquio para só depois abastecer meu veículo.E para minha surpresa ela aceitou minha proposta.Passaram-se mais 45 segundos e ela veio ao meu encontro como se tudo estivesse acontecendo.Imaginem se eu propusesse outra DR….