A Família Blankenheim, como quase toda família, alterna picos de preguiça e empreendedorismo.
É da nossa essência a alma de artista, mas também a energia para ousar e empreender.
Meu avô era um exemplo desse blend. Enquanto exercia sua vocação de músico, lecionava para seus conterrâneos todo tipo de instrumento, de modo a aquecer as vendas do que se poderia chamar na época de hipermercado, uma loja no centro da cidade de Novo Hamburgo, que vendia literalmente tudo, especializando-se em suprir as necessidades mais básicas, bem como aquelas que viriam a ser chamadas de supérfluos.
Ao mesmo tempo tinha fama de pão-duro pois se recusava a engrenar alguma marcha em seu automóvel, descendo nos dois quilômetros de Hamburgo Velho ao Centro, unicamente no ponto morto, na banguela.
Talvez por isso tenha podido amealhar um invejável patrimônio imobiliário que reunia terrenos, casas e estabelecimentos comerciais que mais tarde, nas novas gerações, frutificaria também em apartamentos e lojas.
Como se não bastassem a loja e o ensino de música, abriu um cinema na Lima e Silva, que batizou com o nome de um de seus inspiradores: Cine Theatro Carlos Gomes, casa que iniciou na cidade a exibição de filmes e seriados em preto e branco, movidos a música ao vivo que sua banda tratava de embalar na coxia.
A casa trouxe para a cidade vários espetáculos nacionais de teatro e notabilizou com exclusividade a cena cultural do Vale por muitas décadas.
Na nova geração, vieram Edith, professora de piano e canto, Paulo, comerciante que seguiu com a loja, e Dita , que dinamizou uma das mais conhecidas pequenas indústrias da região: a Camisaria Harla, que se situava na rua Corte Real, além, é claro de Lothar, nosso pai, que gerenciava o cinema, ao mesmo tempo em que lecionava violino e dava shows de competência no instrumento, aqui, e na sua passagem pela Alemanha.
Os mais velhos contam, que Lothar e sua Assunta, professora de piano não atuante, minha mãe, ensaiavam na sala da casa onde nasci, na esquina das ruas Lima e Silva e Bento Gonçalves. Os casais de namorados de então, se aboletavam por ali, para namorar à luz do luar ao som de música clássica espargida pelo casal.
Lothar e Assunta deram origem a Bodo e Mauro ( este mesmo que vos escreve). Bodo casou-se com Naura Maciel e tiveram dois meninos, Luís Henrique e José Carlos, ambos hoje, ainda solteiros, na faixa dos 50 anos.
Mauro foi mais ousado. Fez jus à alma boêmia de seu pai. Casou- se três vezes, e desses casamentos, resultaram, três meninas, uma de cada relação: Patrícia, Vivian e Emanuela, respectivamente, hoje, com 41, 28 e 10 anos de idade.
Vida que segue. O que virá por aí?
Quantos Blankenheim mais desta cepa, surgirão? Só Deus sabe.